Lesão do manguito rotador

Lesão do manguito rotador

A extraordinária complexidade da articulação do ombro confere ao ser humano uma ampla liberdade de movimento, sendo essencial para a realização de atividades cotidianas e especializadas. No cerne dessa mobilidade encontra-se o manguito rotador, um grupo de quatro músculos — supraespinhal, infraespinhal, subescapular e redondo menor — que, ao se inserirem na cabeça do úmero por meio de tendões, formam uma estrutura responsável por estabilizar e coordenar os movimentos do ombro. Fixando-se nas tuberosidades maior e menor do úmero, esses músculos permitem não apenas a rotação e elevação do braço, mas também garantem a harmonia biomecânica da articulação.

Contudo, essa complexidade vem acompanhada de uma notável vulnerabilidade. O desgaste natural dos tecidos, intensificado pelo avanço da idade ou por atividades laborais repetitivas, pode levar a lesões no manguito rotador, comprometendo sua função e gerando desconforto progressivo, muitas vezes exacerbado durante o repouso noturno. Embora a reabilitação fisioterapêutica represente a abordagem primária e eficaz para a maioria dos casos, rupturas severas podem demandar intervenção cirúrgica, destacando a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado para preservar a integridade dessa estrutura fundamental.

A dor e o desconforto associados a uma lesão no manguito rotador podem:

  • Manifestar-se como uma dor persistente e profunda no ombro
  • Interromper o sono, especialmente ao deitar sobre o lado afetado
  • Restringir a mobilidade, dificultando tarefas como pentear o cabelo ou alcançar as costas
  • Ser acompanhados de fraqueza no braço

Em alguns casos, lesões no manguito rotador podem não causar dor perceptível.

As rupturas do manguito rotador podem ter origens distintas, manifestando-se tanto de forma súbita, em decorrência de traumas agudos, quanto de maneira progressiva, como resultado de processos degenerativos ao longo do tempo. Uma lesão aguda frequentemente ocorre em episódios de impacto significativo, como quedas ou levantamento inadequado de cargas pesadas. Já as rupturas de natureza crônica costumam estar associadas a três principais fatores:

  • Estresse repetitivo: Movimentos contínuos e repetitivos, comuns em determinadas atividades profissionais e esportivas, podem levar ao desgaste gradual dos tendões do manguito rotador.
  • Redução do suprimento sanguíneo: Com o envelhecimento, a irrigação sanguínea na região tende a diminuir, comprometendo a capacidade de regeneração dos tecidos e tornando-os mais suscetíveis a lesões.
  • Síndrome do impacto: Ocorre quando os tendões do manguito rotador sofrem compressão entre estruturas ósseas do ombro, resultando em inflamação, dor e possível degeneração ao longo do tempo.

Diversos elementos podem contribuir para o aumento da predisposição a lesões no manguito rotador, incluindo:

  • Envelhecimento: Com o passar dos anos, a integridade dos tendões do manguito rotador tende a se deteriorar, tornando as rupturas mais frequentes, especialmente em indivíduos com mais de 60 anos.
  • Atividades profissionais: Ocupações que exigem movimentos repetitivos do braço acima da cabeça, como carpintaria e pintura, podem acelerar o desgaste das estruturas do ombro, favorecendo o surgimento de lesões.
  • Prática de determinados esportes: Modalidades que envolvem movimentos intensos e repetitivos dos ombros, como tênis e levantamento de peso, podem predispor os atletas a lesões no manguito rotador.
  • Histórico familiar: Evidências sugerem um possível fator genético na predisposição a essas lesões, uma vez que são observadas com maior frequência em determinadas famílias.

Diante de uma lesão no manguito rotador, a abordagem terapêutica pode variar desde métodos conservadores até intervenções cirúrgicas, dependendo da gravidade do quadro. Em muitos casos, medidas como repouso, aplicação de gelo e fisioterapia são suficientes para promover a recuperação e restaurar a funcionalidade do ombro.

A fisioterapia, em especial, desempenha um papel fundamental no tratamento, sendo frequentemente a primeira abordagem recomendada. Por meio de exercícios específicos, adaptados à região afetada, é possível reestabelecer a flexibilidade e fortalecer a musculatura envolvida, favorecendo a reabilitação e prevenindo novas lesões. Além disso, nos casos em que a cirurgia se torna necessária, a fisioterapia se mantém como um componente essencial do processo pós-operatório, auxiliando na restauração gradual da mobilidade e da força do ombro.

  1. American Academy of Orthopaedic Surgeons. Rotator cuff tears.
  2. MedlinePlus. Rotator cuff problems.
  3. MedlinePlus. Rotator cuff problems.
  4. Zhao J, Pan J, Zeng L feng, Wu M, Yang W, Liu J. Risk factors for full-thickness rotator cuff tears: a systematic review and meta-analysis. EFORT Open Rev. 2021;6(11):1087-1096.
  5. Bodendorfer BM. Corr insights®: what factors are associated with symptomatic rotator cuff tears: a meta-analysis. Clin Orthop Relat Res. 2022;480(1):106-108.
  6. American Academy of Orthopaedic Surgeons. Rotator cuff and shoulder conditioning program.

Gostou? Compartilhe esse conteúdo para mais pessoas verem.

Picture of Lucas Veríssimo

Lucas Veríssimo

Autor e proprietário da Avantefisio